Os Pensamentos e Caminhos de Deus

Os Pensamentos e Caminhos de Deus É comum ouvirmos pessoas evangélicas se dirigirem a Deus com as seguintes palavras: "seus caminhos são maiores que os meus, e seus pensamentos são melhores do que os meus". Todos que se dirigem assim a Deus, ao que parece, tem por base uma única passagem da bíblia, a saber: Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos , nem os vossos caminhos os meus caminhos , diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos. [Is 55.8-9] Mas será que isto está evangelicamente correto? Será que esta mensagem é dirigida aos filhos de Deus? Já, em eu vos questionar, vos incito a voltar ao texto e, se fizerdes uma leitura mais detida, percebereis que a resposta é NÃO . Se a resposta à pergunta acima posta é não , podemos afirmar, então, que os pensamentos e caminhos dos filhos de Deus são iguais aos p...

Aquilo que é Torto não se pode Endireitar

Aquilo que é Torto não se pode Endireitar

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Tenho entendido que, por mais força que o homem faça para modificar determinada realidade, há algumas realidades que não podem ser dobradas.

Quando o homem permitiu a entrada, na terra, da influência maligna, começou correr, paralelamente à justiça, a maldade. A partir desse ponto, o governo do mal, encabeçado pelo satanás, passa a moldar a realidade de acordo a seu querer.

Os reinos do mundo passaram, pelo poder entregue ao satanás, a ser moldados para refletir a glória do maligno. Como está escrito:

E o diabo, levando-o [Jesus] a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. [Lc 4.5,6]

Pelo poder recebido, o satanás passa a mentir todas as coisas cujo modelo de existência já estava preestabelecido por Deus, como se diz:

Quando ele [o diabo] profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira. [Jo 8.44].

Assim, paralelo à justiça, há a injustiça; paralelo à verdade, há a mentira; paralelo ao bom, há o mal, não havendo limite para a perversão das coisas.

Como o satanás empreende sua mentira?

Tudo começa com a mentira – faltar, de forma arquitetada, à verdade. “Foi assim que Deus disse: não comerá de toda árvore do jardim?”. A pergunta do satanás dá a entender que Deus proibira se comer de qualquer árvore do jardim. A mulher, porém, respondeu-lhe: “do fruto das árvores comeremos”.

O satanás não tem capacidade para, de si mesmo, criar alguma coisa na terra. Para empreender seu intento vale-se do homem. Para isso, através da mentira, influencia o entendimento do homem desavisado para a efetivação das coisas malignas.

O sentimento de desigualdade; o espírito de emulação; a inveja; a incontinência; a perversão; a violência; o ultraje; a cobiça; a impudicícia e coisas semelhantes a estas têm sua origem na mentira.

Pela mentira, o homem entende que o seu próximo não é o seu semelhante. A partir do momento que um homem não vê o outro como semelhante a ele, o primeiro sentimento que brota é o de superioridade. Em sintonia ao sentimento de superioridade está a opressão, a escravidão, a humilhação, a retenção do que alheio e coisas de natureza semelhante a destas.

Boa parte da violência praticada por determinada pessoa contra outra parte da ideia de superioridade que aquela tenha em relação a esta. As se ver melhor que outra, a pessoa detentora do sentimento pervertido tende a reter o que não é seu; tende a acumular para si; tende a defraudar; tende a ostentar; tudo isso com o intuito de receber para si reconhecimento.

Se uma pessoa se vê superior a outra, verá superior também aquilo que é dela ou que dela venha. Logo verá superiores aos dos outros: os seus filhos, os seus bens, os seus direitos, os seus empreendimentos etc.

A Realidade Pervertida

Em decorrência do que se viu, há uma realidade pervertida, mentida, que, a todo tempo, tenta matar por sufocamento a esperança do justo. Quanto a este, o justo, não há espaço que o permita sonhar uma realidade integralmente agradável.

O justo experimenta lapsos de agradabilidade, pois, desde que o mal impregnou a terra, a missão do justo é remir [sofrer/descontar] o tempo, esperando a realidade vindoura, pois a realidade presenta já está comprometida.

Entendamos. Desde que o homem caiu da comunhão com Deus, passou a operar, ao lado da vontade de fazer o bem, vontade preservada pelo Espírito Santo de Deus, o desejo por fazer o mal, operado pela influência da mentira satânica.

Com a queda da comunhão, o que outrora se obtinha de modo espontâneo: alimento, abrigo, companhia, saúde, e demais coisas, agora, se obtém mediante sofrimento, dor, conquista, sobrepujamento, ciência etc. Esta nova realidade é imutável para o homem, porém o homem não a aceita.

O homem, antes comungado de Deus, precisará, agora, enfrentar aflições para manter-se junto a Deus:

Tu pois, sofre as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo. [2Tm 2.3]

A Comunhão de Abel e dos Filhos de Sete

O primeiro a se levantar como resistente à perversão foi Abel. Abel conservava consigo o entendimento correto da Pessoa de Deus. Isso incomodava ao satanás, que, suscitou a ira em Caim, irmão de Abel. A ira foi tão violenta que fez com que Caim, em determinado momento, se levantasse para matar a seu irmão.

Com a morte do justo Abel, a contrário senso [Gn 4.26b], o Nome de Deus ficou esquecido, de modo que já não era mais invocado, ou proferido pelos descendentes de Adão. Por certo Adão deveria invocá-lo, mas, talvez, por ter sido o responsável pela miséria corrente, sua voz não ecoava com o devido respaldo.

O mundo, então, precisa de um novo expositor do conhecimento de Deus. Outros filhos e filhas vieram a Adão e Eva, após a morte de Abel, mas o substituto de Abel é Sete, pelo que Eva diz:

Deus me deu outro filho em lugar de Abel; porquanto Caim o matou [Gn4.25].

As Escrituras informam que Sete gerou a Enos, a partir daí, então, começou-se a invocar o Nome dO SENHOR [Gn 4.26b].

Percebe que Enos devolveu à humanidade o sentido da criação: louvor e glória a Deus. Sua descendência, porém, passou a ser uma um ponto de incômodo para seus irmãos e descendentes destes.

O incômodo advindo do diferente modo de viver que os filho de Sete tinha dos descendentes dos outros filhos de Adão era tão violento, que Enoque, descendente de Sete, teve que ser trasladado aos céus. Além dessa intervenção direta da parte de Deus, outras intervenções divinas surgiram, como a redução da longevidade e, por fim, a destruição daquela geração pervertida pelo Dilúvio.

Aquela era a geração de toda sorte de perversão ­– desde promiscuidade até a homicídio.

O que falta não pode ser calculado

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A exemplo de Abel e de seu Irmão Sete, muitos homens vieram ao mundo para impedir que o saldo negativo deixado pela injustiça fosse, de algum modo, demasiadamente grande.

Precisamos saber que há um limite estabelecido por Deus para a injustiça e, quando a medida de injustiça alcança esse limite, Deus intervém em juízo. Assim, diferente do justo, que está debaixo do amor divino [e quem é santo, santifique-se ainda], os pecadores estão debaixo da tolerância divina [e quem é sujo, suje-se ainda], porém, a soma do pecado com o pecado amontoa injustiça e, quando a medida da injustiça alcança o limite estabelecido por Deus, este intervém.

A intervenção toma forma de juízo, que, por sua vez, pode vir de inúmeras formas: água, fogo, espada, fome, guerra, desentendimento etc. Essa medida é estabelecida a um nível que possa salvaguardar os propósitos divinos. Quando o crescimento de determinado mal possa alcançar tamanho tal, que possa comprometer os propósitos divinos, Deus intervém para extirpar o causador do mal.

Assim foi com a geração de Noé, de Ninrode, de Sodoma e Gomorra, de Canaã, de Corá e de tantos outros.

Porém, como freio ao juízo de Deus, estão na terra os justos. Os justos sevem para compensar, na balança, o peso da injustiça, como diz:

Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado algum remanescente, já como Sodoma seríamos, e semelhantes a Gomorra. [Is 1.9]

Por exemplo, quando o Senhor Deus promete dar a terra de Canaã a Abraão, Deus se utiliza das seguintes palavras:

E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia. [Gn 15.16]

Assim, apesar de Deus ter prometido a terra a Abraão, Deus não poderia, ainda, entregá-la a Abraão, pois, naquele momento, havia alguma coisa de bom em Canaã que compensasse a injustiça que se operava naquela terra. Em vista disso, Deus informa a seu amigo que a quarta geração deste viria à terra, quando a medida de injustiça dos amorreus, que ora ali habitava, estaria completa, o que legitimaria a expulsão e destruição dos habitantes daquela terra.

Essa questão do balanceamento entre a justiça e a injustiça se opera durante todo o tempo em que o homem vive na terra. Isso se percebe no diálogo entre Deus e Abraão, quando da destruição de Sodoma, Gomorra, Admá, Zeboim e Zoar [esta foi poupada a pedido de Ló]. Abraão quando soube que aquela terra seria destruída, perguntou a Deus se a destruição aconteceria independentemente do número de justos que lá habitasse.

Após ser questionado por Abraão quanto ao que se faria a Sodoma e a suas cidades-irmãs [Gomorra, Admá, Zeboim e Zoar], Deus garante que nada fará com elas se nelas houver, ao menos, dez justos.

Percebe nesse diálogo que se houvesse determinado número de justo, no mínimo dez, juntando as cinco cidades, tais não seriam destruídas. Ou seja, juntando as cinco cidades, caso houvesse dez justos que ali vivesse, tais cidades seriam poupadas da destruição. Mas, o resultado da visita dos anjos prova que não havia justos suficientes para compensar o grito de injustiça que subia a Deus, daquele lugar.

A balança Pecado x Justiça

balança

Percebe-se, com isso, que a falta de pessoas justas em determinado lugar, pode levar à destruição deste lugar.

Na continuação da narrativa escriturística, perceberemos que, num futuro distante, a própria nação de Israel se deixou envilecer a ponto de ser considerada pior do que Sodoma e Gomorra [Ez 16.46-52].

Por isso mesmo, em determinado momento, O Senhor Deus informa que o juízo viria sobre Judá e, ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de Deus para interceder, Deus não os ouviria [Jr. 15.1]. Deus ainda fala, em Ezequiel 14.13-23, que uma terra que já tenha recebido juízo de Deus, juízo de espada, ou de fome, ou de peste, ou de animais, ainda que habitassem nesta terra Noé, Daniel e Jó, juntamente, não seria motivo  para Deus poupar esta terra, nem mesmo seus filhos se salvariam, apenas eles, pelas suas justiças, se salvariam.

Isso prova que, há momentos, que a medida de iniquidade está tão elevada que os justos nada podem contra ela. Por isso, para que a conta de Deus feche com saldo misericordioso sobre determinada terra é necessário que haja um número suficiente de justos que vivam ali e que por aquela terra intercedam.

Em verdade, a vida desses justos deve ser proveitosa ao lugar. Quando a presença dos justos não mais trouxer proveito ao lugar, o justo dali será retirado.[ex.: Enoque, Noé, Ló, Elias] [ver Isaías 57.1]. A perda do proveito pode se dar porque a maldade está muito forte, ou porque o justo está perdendo as suas forças. Assim, para cada caso respectivo cumpre-se o seguinte:

Porque o cetro da impiedade não permanecerá sobre a sorte dos justos, para que o justo não estenda as suas mãos para a iniquidade. [Sl 125.3]; e

Bom é o sal; mas, se o sal degenerar, com que se há de salgar?Nem presta para a terra, nem para o monturo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. [Lc 14.34,35]

A intercessão de Ló

Quando da destruição das cinco cidades impiedosa, Sodoma, Gomorra, Admá, Zeboim e Zoar,  o justo Ló foi retirado de lá, com mão forte de Deus e intercessão de Abraão. Ló, temendo ser apanhado pelo cataclismo, caso fugisse para o monte, intercedeu aos anjos para fugir para Zoar.

Zoar estava para ser destruída, juntamente com suas quatro cidades-irmãs maiores [Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim], mas Ló intercedeu por ela, mas o que contribui para sua ressalva foi o fato de ser uma vila pequena, insignificante [sua maldade não seria grande o suficiente para influenciar a região]. Ou seja, por ser pequena, poucas casas, portanto, poucas famílias, Ló poderia para lá fugir e balancear a equação Pecado x Justiça. Deus atendeu ao pedido de Ló, porém o próprio Ló, depois, temeu continuar ali e fugiu para habitar em um monte [Gn 19.30].

O Sofrimento dos Santos

Este é o sofrimento dos santos: suportar o dia mal em seus dias e, através de suas vidas, permitir que Deus prolongue o tempo da terra, para, daí, acrescentar mais alguns cidadãos aos céus. Por isso mesmo, não poucos homens de Deus suspiraram de dor. Exemplos de suspiro:

Jeremias — Por que saí da madre, para ver trabalho e tristeza, e para que os meus dias se consumam na vergonha? [Jr 20.18];

Davi — Tu, que me tens feito ver muitos males e angústias, me darás ainda a vida, e me tirarás dos abismos da terra. [Sl 71.20];

Habacuque — Por que razão me mostras a iniquidade, e me fazes ver a opressão? Pois que a destruição e a violência estão diante de mim, havendo também quem suscite a contenda e o litígio. [Hb 1.3]

Estes e tantos outros foram homens que tentaram, pela sua justiça, influenciar sua geração e efetivar a justiça, mas perceberam que a conta do que faltava para que a humanidade melhorasse era muito mais do que podiam calcular.

Por isso mesmo o Apóstolo Paulo fala em remissão do tempo [Ef 5.16 c/c Cl 4.5], ou seja, em aproveitar a oportunidade de acordo à vontade do Senhor Deus. Pois a oportunidade corre para todos [Ec 9.11]. É como o Pregador diz:

Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma. [Ec 9.10]

A grande explanação do sofrimento dos santos está em Hebreu, capítulo 11, onde é relatado o sofrimento de alguns, após o quê [capítulo 12], somos informados que devemos olhar para Jesus, autor e consumador da nossa fé, pois ainda não resistimos até ao sangue, combatendo o pecado.

Aquilo que é Torto não se pode Endireitar

compasso

Voltando ao tema do título deste artigo, vemos que Salomão, rei em Israel após o reinado de Davi, seu pai, se dedicou a esquadrinha o mundo ao seu redor e, quem sabe, procurar melhorá-lo. Tal empresa — atividade — é chamada por Salomão de “enfadonha ocupação”.

Por mais difícil que seja determinada realidade, há realidades que são inflexíveis. Por mais boa vontade e sede de justiça que alguém possa ter, elas não serão maiores do que a vontade e desejo por justiça de Deus.

O homem mais apto para mudar a realidade pervertida do mundo foi Jesus Cristo, porém, Jesus não reio mudar o mundo, mas criar uma realidade paralela a existente cujo nome é IGREJA. Paralela à mazela do mundo, Jesus estabeleceu a sua Igreja, cujos membros são todos os que aceitam a Cristo.

Jesus, mais do que ninguém, quando esteve na terra, sabia que havia realidades que Deus já entregara a sua própria sorte. Quem tem ouvido para ouvir ouça. Como está escrito:

Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis.

Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.

Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza.

Romanos 1:22-26

Deus não chamou os seus santos para serem a “palmatória” do mundo, ou para se fazer ouvir nas praças [entrar em qualquer querela]. Deus nos chamou para sermos luz, para que as nossas obras resplandeçam.

Se o próprio Filho de Deus não procurou corrigir integralmente as mazelas do mundo, nós não podemos querer fazer-nos melhores do que Deus. Não há sofrimento que Deus não a tenha sofrido, não há dor que Deus não a tenha sentido, não há canto que Deus não o tenha sondado.

Faz-se mister, antes de tudo, saber que a expressão “aquilo que é torto não pode ser endireitado” não deve ser lido como uma imprecação ou sentença, mas apenas como algo descritivo, declarativo. Por isso, o que Salomão está a dizer é: o que há de torto não pode ser endireitado.

Por assim dizer, como pronome demonstrativo, “aquilo”, em “aquilo que é torto”, parece apontar para algo ou alguém específico, cuja natureza já tenha sido sentenciada. Mas a ideia é de que Salomão tenha chegado a este entendimento como resultado de sua busca por moldar a sua realidade.

Ou seja, Salomão, após empreender força para corrigir aquilo de errado que existia em sua realidade, entendeu que havia mais coisa torta do que a sua justiça poderia consertar e o que faltava das coisas era mais do que se podia calcular:

Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo que falta não se pode calcular. [Ec 1.15]

Deve-se saber, contudo, que este versículo não é um salvo-conduto para se sair sentenciando algo como fracassado ou como bem-sucedido, mas para se entender que a nossa capacidade para fazer o bem, por vezes, se esbarra na capacidade de outros para fazerem o mal. São os servos do maligno, comprometidos com o mal e cujo número de seguidores é mais do que se pode contar, pessoas que Deus já entregou à própria sorte.

A realidade domável x A realidade indomável

Cada ser humano pode moldar parte da realidade que se lhe apresenta. Não tem como um indivíduo resolver o problema do mundo, por mais forte ou poderoso que possa ser.

Há uma realidade moldável, sob o poder de cada indivíduo. Nenhum indivíduo recebeu poder sobre todo o mundo. Cada um, porém, conhecendo a vontade de Deus, deve moldar parte da realidade que se lhe apresenta de acordo ao poder recebido de Deus. Cada um dos santos recebeu um talento de Deus, sendo através deste talento que cada pessoa moldará a realidade que Deus lhe entregara.

Por isso mesmo, não existe um anjo [pastor] para toda a Igreja, existem anjos, para trabalhar as realidades da Igreja em determinada localidade.

Se, por um lado, há a realidade moldável, há, por outro a realidade que não o é. Pois, paralelo aos santos homens de Deus, que têm sede por justiça, há os que querem manter a realidade pervertida.

A Natureza da Realidade Indomável

A expressão “não pode ser endireitado” não se refere simplesmente à natureza das coisas, mas pode revelar uma impossibilidade de ordens diversas: determinado nível de conhecimento [há realidades que precisam de um conhecimento mais avançado para serem domadas. Ex.: o homem voar], determinado nível de espiritualidade [Jesus falou que determinada casta de demônios só sai com jejum e oração], determinado tempo [existem obras que perpassam governos ou mesmo gerações] ou de determinadas pessoas [há problemas que não podem ser resolvidos por uma pessoa apenas, independente do poder desta].

Uma realidade pode ser considerada indomável dentro de determinado tempo e não por sua natureza. Por exemplo, uma cidade que cresce ao longo de décadas sem um Plano de Desenvolvimento tende a ser um desordenado de casas, esta desordem revela-se como um problema urbano, que, por sua vez, refletirá, no trânsito, na saúde, na segurança, e na educação da respectiva cidade.

Caso alguém, observando essa realidade, queira resolver esse problema, deverá saber que poderá não o resolver em sua geração, mas que seu Plano de Reordenação Urbano deverá contar com o interesse da geração seguinte.

Por exemplo, dentro da gestão orçamentária pública brasileira existe o que se conhece por Plano Plurianual — PPA, que é um plano orçamentário estratégico para médio prazo e que prevê os programas de governo de igual período, começando em um governo e se estendendo ao próximo.

Os programas de longo prazo ou de prestação continuada pode, por sua vez, perpassar inúmeros governos ou gerações.

Conclusão

O que se prega com este artigo, não é a letargia pela impotência, mas a consciência individual para se estar avisado do que se cabe a cada um. Não se deve carregar um fardo maior do que aquele que fora entregue aos santos por Jesus.

A angústia pelo que se vê de errado, pela violência, ultraje, humilhação, depravação, afronta é sentimento presente naquele que é santo e que tem os olhos abertos, mas, quando não está em seu poder desse alguém mudar tal realidade, a ele cabe outras ferramentas, como a intercessão, deprecação, súplica e coisas semelhantes.

A angústia por se querer consertar o há de errado é sentimento que permeou o coração dos santos homens de Deus que vieram antes de nós, todos, porém, procuraram sacrificar o seu sofrimento e angústia a Deus, e chamá-lo [a Deus] para sofrer com eles, pois sozinhos, não podemos suportar a dolorida maldade do mundo.

A ideia não é, com esta exortação, pregar o comodismo e a leviandade, ou condenar aquele que quer resolver o problema do mundo, pois cada qual que aproveite ou enterre o seu talento que responda por isso. 

Se, por outro lado, a pessoa tem a certeza de que tudo que lhe veio ao alcance ela não deixara de aproveitar, tal pessoa deve viver em paz com a sua consciência e não se penalizar pelo que não conseguira realizar, pois, quando a gente não consegue arrumar o mundo, devemos pelo menos arrumar o que está ao nosso alcance.


Deus É Fiel!


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