Os Pensamentos e Caminhos de Deus

Os Pensamentos e Caminhos de Deus É comum ouvirmos pessoas evangélicas se dirigirem a Deus com as seguintes palavras: "seus caminhos são maiores que os meus, e seus pensamentos são melhores do que os meus". Todos que se dirigem assim a Deus, ao que parece, tem por base uma única passagem da bíblia, a saber: Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos , nem os vossos caminhos os meus caminhos , diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos. [Is 55.8-9] Mas será que isto está evangelicamente correto? Será que esta mensagem é dirigida aos filhos de Deus? Já, em eu vos questionar, vos incito a voltar ao texto e, se fizerdes uma leitura mais detida, percebereis que a resposta é NÃO . Se a resposta à pergunta acima posta é não , podemos afirmar, então, que os pensamentos e caminhos dos filhos de Deus são iguais aos p...

O que é SINCERIDADE?

O que é SINCERIDADE?

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Esse é um dos artigos sobre cujo assunto eu tenha escrito com mais disposição. A razão disso é porque quanto mais se investigasse mais se achasse tópicos que fossem interessantes.

De princípio achei interessante investigar sobre o termo sinceridade, depois que me deparei com ele na seguinte passagem das Escrituras:

Porque os retos habitarão a terra, e os sinceros permanecerão nela. [Pv 2.21] [ARC]

Esta expressão, sincero, utilizada pela versão Almeida Revista e Corrigida ­– ARC, pode ser, em outras versões, substituída por íntegro.

Percebi, então, que Salomão informa uma bem-aventurança para os retos [yashar] e outra para o sincero [cuja raíz é tõm]. Então percebir, por esta passagem, que uma é a bem-aventurança pelo direito de habitar, outra é a bem-aventurança que se revela pelo direito de permanecer. 

Assim, o direito de habitar a terra é bem-aventurança destinada ao reto; o direito de permanecer na terra, por outro lado, é bem-aventurança destinada aos sinceros [ou íntegros].

A princípio, pode parecer que são palavras que representam a mesma coisa e que o escritor apenas se utilizou de sinonímias para evitar a repetição do termo. Porém trata-se de qualidades distintas.

Isso também é percebido na vida de Jó, quando Deus dele deu testemunho: homem reto, sincero, temente, desviando-se do mal [Jo 1.1;8].

Uma pessoa pode ser justa em seu modo de ser, podendo, porém, não ser sincera. Sendo sua justiça apenas de aparência, como aquele juiz iníquo que empreendeu justiça a uma viúva porque ficou enfadado com insistência desta. Percebe-se, então, que a sinceridade não foi a motivação de sua ação [Lc 18.1.-5].

Os retos habitarão na terra, e os sinceros nela permanecerão

Voltando ao versículo. Habitar é viver em determinado lugar. O tempo da habitação, porém, é determinado por outros fatores. Como se está falando, aqui, de uma bem-aventurança divina, o tempo da habitação é determinado pela sinceridade/integridade do homem para com aquilo que é reto.

Percebe-se, assim, que a sinceridade não é um bem em si mesmo, mas deve estar alinhada à verdade, à retidão, à justiça.

Para que possamos entender melhor sobre sinceridade, não sem a devida consciência da limitação deste Mensageiro, devemos entendê-la tanto sob o viés das Escrituras quanto sob o viés moderno.

A sinceridade hodierna aproxima-se do que entendemos por correspondência. Quando algo se apresenta como realmente é, tal apresentação é dita sincera. É quando algo que se apresenta à luz corresponde a sua realidade interior, encoberta.

A sinceridade não pode ser, em si mesma, avaliada positiva ou negativamente, senão quando alinhada ao bem ou ao mal, à verdade ou à mentira. 

Quando uma pessoa é má mas finge ser boa, tal pessoa está sendo não-sincera; quando uma pessoa é boa e finge ser má, tal pessoa está sendo não sincera.

A realidade é, em termo mais raso, aquilo que existe, aquilo que é. A realidade das coisas pode se nos apresentar como se é ou como se propõe a ser. Existe a realidade aparente [externa, visível] e a realidade encoberta [interna, escondida, sombreada]. A realidade aparente pode corresponder à realidade interna ou não.

Percebe-se então que há duas realidades. Quando a realidade externa corresponde à realidade interna, há sinceridade, ou seja, ausência de dubiedade.

A própria aparência de realidade transmite uma realidade em si mesma, qual seja: sua apresentação, trazendo consigo, ainda, a realidade que esconde. Uma coisa que se apresenta com se é, revela uma realidade sincera. Quando, por outro lado, se apresenta como algo a que se propõe a ser, sendo esse algo diferente da realidade escondida, este algo revela uma realidade não-sincera.

Exemplificando. Quando os gibeonitas se apresentaram a Josué e aos príncipes de Israel, vestindo vestes rotas e trazendo consigo pães embolorados, transmitiam uma realidade condizente com viajantes de terras longínquas. Assim, existiam, neste cenário, tanto a realidade aparente não-correspondente à realidade encoberta.

A realidade aparente informava que aquelas pessoas não eram de alguma cidade próxima. Dessa forma, a dissimulação estorvava o conhecimento da origem daquelas pessoas.

Origem do Termo

No Hebraico

No princípio, sinceridade indica integridade, ou seja, aquilo que é um em si mesmo e que é constante; que não é corrompido; cuja natureza seja intata. Em oposição ao sincero existe o dúbio, aquele que coxeia entre dois pensamentos; de natureza dobre, inconstante.

O Jó era sincero. Jó não era só sincero, mas também reto, temente e prudente/avisado [desviava-se do mal (Pv 22.3)]. O sincero é constante, permanece e vai até ao fim [Dn 12.13]; o de coração dobre cai, por sua vez.

No antigo testamento, a palavra para designar sinceridade é tõm, tummim [no plural], sendo este o nome cravado em uma das pedras sobre a ombreira do éfode dos sacerdotes de JEOVÁ, compondo o urim [luzes] e o tummim [integridades]. Segundo os estudiosos, aparece apenas em Jó e Provérbios [generalizado], quando em referência a homem.

No Grego

A palavra grega para sinceridade é eilikrines, cujo significado é: julgado sob a luz do sol. A expressão, segundo pesquisas, surgiu do ato que tinham os comerciantes de submeter determinado jarro de porcelana à luz do sol, para avaliar sua [im]pureza, recebendo o selo de sincero [eilikrines], aquele jarro que fosse desprovido de impurezas, i.e., cuja realidade interior [analisada sob a luz do sol] correspondesse à sua realidade exterior [aparente].

Ou seja, sinceridade para os gregos é pureza e transparência. Eilikrines é utilizada duas vezes no Novo Testamento: Fp 1.10 e 2Pe 3.1.

Para que aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros, e sem escândalo algum até ao dia de Cristo [Filipenses 1.10]

Assim, por eilikrines, temos que a aparência condiz com a essência.

Para melhor conhecimento sobre o termo e sua origem, aconselho a leitura do seguinte artigo [em inglês]: GreekWord Studies [Estudos de Palavra Grega].

No Latim

Por fim, temos a palavra sincerus, de onde provém a nossa palavra sincero, que deu origem a sinceridade. Em que pesem as criatividades populares, somos informados de que a palavra latina sincerus é formada pela junção de dois termos: sin [que significa um ou único] e cerus [que significa crescer]. 

A junção dos dois termos, assim, declara algo cujo crescimento se originou de uma única raíz, ou seja, algo de crescimento único, sem igual.

Para consulta, indico o ciberdúvidas, o origem da palavra  e o artigo da Veja “Sinceramente, a sinceridade não é isso que dizem”.

Assim, sincerus é algo que tenha se formado ou crescido de um único elemento, não havendo em si mistura. Se o elemento constitutivo de determinada coisa é a verdade ou a retidão, este elemento, quando da sua apresentação, deverá, de igual modo, se revelar verdadeiro e reto, para que seja considerado sincero.

Sinceridade

Perguntas como: O que é sinceridade? Qual o significado de sinceridade? O que é ser sincero? podem ser levantadas por aqueles que a queiram melhor entender. Porém, mais do que o significado de cada palavra, quer a palavra hebraica tõm, quer a grega eilikrines, quer a latina sincerus, para nós, o importante é o valor da sinceridade.

Em sinonímia, sinceridade pode ser entendida como genuinidade, autenticidade, transparência, integridade, pureza, desvelamento.

Sinceridade é de valor positivo quando alinhada à verdade. É a ciência que se tem do que é bom alinhada ao prazer de persegui-lo. Não é só fazer o bem, é ter prazer em fazê-lo. É o não fingimento, a ausência de hipocrisia.

Existe, porém, a sinceridade para com o mal. Tem pessoas que estão completamente comprometidas com o mal e é sincera em empreende-lo.

Dado esse caráter da sinceridade, ninguém é valorizado pela sinceridade apenas, isto é, quando a sinceridade está desprovida da retidão, da verdade. Lembremos do rei Abimeleque, que desejou e tomou a mulher de Abraão. A desculpa dele para com Deus foi dizer que estava em sinceridade. Mas Deus disse que ele morreria, por tomar mulher casada.

Analisemos o contexto. Provavelmente aquela terra, assim como no Egito, já tinha a fama de tomar mulheres de seus maridos, quando fossem belas. Abraão já sabia da fama, pois disse consigo: certamente ninguém teme a Deus neste lugar. A forma para o tomador desenvolvera para não se tornar culpado era, através do medo, fazer com que as pessoas negassem ou ocultassem o matrimônio, assim, facilmente eles diriam não saber da verdade.

Sendo assim, se sinceridade é correspondência, pela sinceridade Abimeleque estava puro, mas lhe faltava a verdade, que se lhe apresentou em sonho: a mulher é casada. Por causa desta dura verdade, veio a sentença: morrerás.

Muitos dizem que Abraão mentiu. Será mesmo? Conversa para outra hora.

Para mais sobre a sinceridade para o mal, sugiro a leitura do artigo “O que a Bíblia diz sobre a sinceridade?”.

Visto tudo isso, posso dizer que sinceridade é a correspondência entre a realidade visível e a invisível. É a subsunção perfeita desta realidade àquela. É o encontro do mesmo constituinte quando da inquirição da realidade, independente do método utilizado e da pessoa inquirente.

A sinceridade está presente quando a realidade desvelável atesta a já desvelada.

Conclusão

Percebemos que a sinceridade não salva, não liberta, não aumenta, nem diminui, quando analisada em si mesma, ou seja, sinceridade pela sinceridade. A sinceridade não tem valor absoluto, mas assume o valor das virtudes que a acompanham.

Para Deus, a sinceridade valorizada e louvada é aquela que acompanha a retidão. Isso é possível pela obra de Jesus na cruz. Por isso o alerta deixado por Salomão. Não basta habitar a terra, deve-se permanecer nela. Muitas nações foram desarraigadas diante de Deus, para que nações melhores pudessem ocupar a terra.

Antes de Cristo, o cumprimento do que é reto e bom, era feito por meio de aios, pedagogos, de fora para dentro. Após Jesus, todos os que receberam o Espírito Santo, passaram a operar por sinceridade e não por violência.

Se ser sincero é nascer de apenas uma raíz, nós temos uma árvore de caule lenhoso que é Cristo, na qual estamos enxertados e da qual recebemos da mesma seiva e através de quem frutificamos para a vida eterna. De sorte que não há em nós duplicidade de natureza, pois não andamos mais segundo a lei do pecado que opera na carne, mas segundo a lei de Deus, que opera me nosso espírito pelo seu Espírito. Amém.

O justo que anda na sua sinceridade transmite sua bem-aventurança para os seus filho:

O justo anda na sua sinceridade; bem-aventurados serão os seus filhos depois dele. [Pv 20.7]

Ou seja, a sinceridade do justo torna a sua descendência durável, permanente.

Sobre integridade também escreveu Wilma Rejane em “Integridade segundo a Bíblia”. 


Deus É Fiel!


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