O que é SINCERIDADE?
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O que é SINCERIDADE?
Esse é um dos artigos sobre cujo assunto eu
tenha escrito com mais disposição. A razão disso é porque quanto mais se investigasse mais se achasse tópicos que fossem interessantes.
De princípio achei interessante investigar
sobre o termo sinceridade, depois que me deparei com ele na seguinte
passagem das Escrituras:
Porque os retos habitarão a terra, e os sinceros permanecerão nela. [Pv 2.21] [ARC]
Esta expressão, sincero, utilizada pela
versão Almeida Revista e Corrigida – ARC, pode ser, em outras versões, substituída
por íntegro.
Percebi, então, que Salomão informa uma bem-aventurança para os retos [yashar] e outra para o sincero [cuja raíz é tõm]. Então percebir, por esta passagem, que uma é a bem-aventurança pelo direito de habitar, outra é a bem-aventurança que se revela pelo direito de permanecer.
Assim, o direito de habitar a terra é bem-aventurança destinada ao reto; o direito de permanecer na terra, por outro lado, é bem-aventurança destinada aos sinceros
[ou íntegros].
A princípio, pode parecer que são palavras que representam a mesma coisa e que o escritor apenas se utilizou de sinonímias para evitar a repetição do termo. Porém trata-se de qualidades distintas.
Isso também é percebido na vida de Jó, quando Deus dele deu testemunho: homem reto, sincero, temente, desviando-se do mal [Jo 1.1;8].
Uma pessoa pode ser justa em seu modo de ser, podendo,
porém, não ser sincera. Sendo sua justiça apenas de aparência, como aquele juiz iníquo que empreendeu justiça a uma viúva porque ficou enfadado com
insistência desta. Percebe-se, então, que a sinceridade não foi a motivação
de sua ação [Lc 18.1.-5].
Os retos habitarão na terra, e os sinceros nela permanecerão
Voltando ao versículo. Habitar é viver em determinado lugar. O tempo da habitação, porém, é determinado por outros fatores. Como se está falando, aqui, de uma bem-aventurança divina, o tempo da habitação é determinado pela sinceridade/integridade do homem para com aquilo que é reto.
Percebe-se, assim, que a sinceridade não é um bem em si mesmo, mas deve estar alinhada à verdade, à retidão, à justiça.
Para que possamos entender melhor sobre sinceridade,
não sem a devida consciência da limitação deste Mensageiro, devemos entendê-la
tanto sob o viés das Escrituras quanto sob o viés moderno.
A sinceridade hodierna aproxima-se do que entendemos por correspondência.
Quando algo se apresenta como realmente é, tal apresentação é dita sincera. É quando
algo que se apresenta à luz corresponde a sua realidade interior, encoberta.
A sinceridade não pode ser, em si mesma, avaliada positiva ou negativamente, senão quando alinhada ao bem ou ao mal, à verdade ou à mentira.
Quando uma pessoa é má mas finge ser boa, tal pessoa está sendo
não-sincera; quando uma pessoa é boa e finge ser má, tal pessoa está sendo não
sincera.
A realidade é, em termo mais raso, aquilo que
existe, aquilo que é. A realidade das coisas pode se nos apresentar como
se é ou como se propõe a ser. Existe a realidade aparente [externa, visível] e
a realidade encoberta [interna, escondida, sombreada]. A realidade aparente
pode corresponder à realidade interna ou não.
Percebe-se então que há duas realidades. Quando
a realidade externa corresponde à realidade interna, há sinceridade, ou seja,
ausência de dubiedade.
A própria aparência de realidade transmite uma
realidade em si mesma, qual seja: sua apresentação, trazendo consigo, ainda, a
realidade que esconde. Uma coisa que se apresenta com se é, revela uma
realidade sincera. Quando, por outro lado, se apresenta como algo a que se propõe
a ser, sendo esse algo diferente da realidade escondida, este algo revela uma
realidade não-sincera.
Exemplificando. Quando os gibeonitas se
apresentaram a Josué e aos príncipes de Israel, vestindo vestes rotas e
trazendo consigo pães embolorados, transmitiam uma realidade condizente com
viajantes de terras longínquas. Assim, existiam, neste cenário, tanto a
realidade aparente não-correspondente à realidade encoberta.
A realidade aparente informava que aquelas
pessoas não eram de alguma cidade próxima. Dessa forma, a dissimulação
estorvava o conhecimento da origem daquelas pessoas.
Origem do Termo
No Hebraico
No princípio, sinceridade indica integridade,
ou seja, aquilo que é um em si mesmo e que é constante; que não é corrompido;
cuja natureza seja intata. Em oposição ao sincero existe o dúbio, aquele que coxeia
entre dois pensamentos; de natureza dobre, inconstante.
O Jó era sincero. Jó não era só sincero, mas também
reto, temente e prudente/avisado [desviava-se do mal (Pv 22.3)]. O sincero é constante,
permanece e vai até ao fim [Dn 12.13]; o de coração dobre cai, por sua vez.
No antigo testamento, a palavra
para designar sinceridade é tõm, tummim [no plural],
sendo este o nome cravado em uma das pedras sobre a ombreira do éfode dos
sacerdotes de JEOVÁ, compondo o urim [luzes] e o tummim
[integridades]. Segundo os estudiosos, aparece apenas em Jó e Provérbios
[generalizado], quando em referência a homem.
No Grego
A palavra grega para sinceridade
é eilikrines, cujo significado é: julgado sob a luz do sol.
A expressão, segundo pesquisas, surgiu do ato que tinham os comerciantes de
submeter determinado jarro de porcelana à luz do sol, para avaliar sua [im]pureza,
recebendo o selo de sincero [eilikrines], aquele jarro que fosse
desprovido de impurezas, i.e., cuja realidade interior [analisada sob a luz do sol] correspondesse à sua realidade exterior [aparente].
Ou seja, sinceridade para os gregos
é pureza e transparência. Eilikrines é utilizada duas
vezes no Novo Testamento: Fp 1.10 e 2Pe 3.1.
Para que aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros, e sem escândalo algum até ao dia de Cristo [Filipenses 1.10]
Assim, por eilikrines,
temos que a aparência condiz com a essência.
Para melhor conhecimento sobre o termo e sua origem, aconselho a leitura do seguinte artigo [em inglês]: GreekWord Studies [Estudos de Palavra Grega].
No Latim
Por fim, temos a palavra sincerus, de onde provém a nossa palavra sincero, que deu origem a sinceridade. Em que pesem as criatividades populares, somos informados de que a palavra latina sincerus é formada pela junção de dois termos: sin [que significa um ou único] e cerus [que significa crescer].
A junção dos dois termos, assim, declara
algo cujo crescimento se originou de uma única raíz, ou seja, algo de
crescimento único, sem igual.
Para consulta, indico o ciberdúvidas, o origem da palavra e o artigo da Veja “Sinceramente, a sinceridade não é isso que dizem”.
Assim, sincerus é algo que tenha se formado ou crescido de um único elemento, não havendo em si mistura. Se o elemento constitutivo de determinada coisa é a verdade ou a retidão, este elemento, quando da sua apresentação, deverá, de igual modo, se revelar verdadeiro e reto, para que seja considerado sincero.
Sinceridade
Perguntas como: O que é sinceridade? Qual o significado de sinceridade? O que é ser sincero? podem ser levantadas por aqueles que a queiram melhor entender. Porém, mais do que o significado de cada palavra, quer a palavra hebraica tõm, quer a grega eilikrines, quer a latina sincerus, para nós, o importante é o valor da sinceridade.
Em sinonímia, sinceridade pode ser entendida como genuinidade,
autenticidade, transparência, integridade, pureza, desvelamento.
Sinceridade é de valor positivo
quando alinhada à verdade. É a ciência que se tem do que é bom alinhada ao
prazer de persegui-lo. Não é só fazer o bem, é ter prazer em fazê-lo. É o não
fingimento, a ausência de hipocrisia.
Existe, porém, a sinceridade
para com o mal. Tem pessoas que estão completamente comprometidas com o mal e é
sincera em empreende-lo.
Dado esse caráter da
sinceridade, ninguém é valorizado pela sinceridade apenas, isto é, quando a
sinceridade está desprovida da retidão, da verdade. Lembremos do rei
Abimeleque, que desejou e tomou a mulher de Abraão. A desculpa dele para com Deus
foi dizer que estava em sinceridade. Mas Deus disse que ele morreria, por tomar
mulher casada.
Analisemos o contexto. Provavelmente
aquela terra, assim como no Egito, já tinha a fama de tomar mulheres de seus
maridos, quando fossem belas. Abraão já sabia da fama, pois disse consigo:
certamente ninguém teme a Deus neste lugar. A forma para o tomador desenvolvera
para não se tornar culpado era, através do medo, fazer com que as pessoas
negassem ou ocultassem o matrimônio, assim, facilmente eles diriam não saber da
verdade.
Sendo assim, se sinceridade é correspondência,
pela sinceridade Abimeleque estava puro, mas lhe faltava a verdade, que se lhe
apresentou em sonho: a mulher é casada. Por causa desta dura verdade, veio
a sentença: morrerás.
Muitos dizem que Abraão mentiu.
Será mesmo? Conversa para outra hora.
Para mais sobre a sinceridade para
o mal, sugiro a leitura do artigo “O que a Bíblia diz sobre a sinceridade?”.
Visto tudo isso, posso dizer que sinceridade é a correspondência entre a realidade visível e a invisível. É a subsunção perfeita desta realidade àquela. É o encontro do mesmo constituinte quando da inquirição da realidade, independente do método utilizado e da pessoa inquirente.
A sinceridade está presente quando a realidade desvelável atesta a já desvelada.
Conclusão
Percebemos que a sinceridade não
salva, não liberta, não aumenta, nem diminui, quando analisada em si mesma, ou seja,
sinceridade pela sinceridade. A sinceridade não tem valor absoluto, mas assume
o valor das virtudes que a acompanham.
Para Deus, a sinceridade
valorizada e louvada é aquela que acompanha a retidão. Isso é possível pela
obra de Jesus na cruz. Por isso o alerta deixado por Salomão. Não basta habitar
a terra, deve-se permanecer nela. Muitas nações foram desarraigadas diante de
Deus, para que nações melhores pudessem ocupar a terra.
Antes de Cristo, o cumprimento do
que é reto e bom, era feito por meio de aios, pedagogos, de fora para dentro. Após
Jesus, todos os que receberam o Espírito Santo, passaram a operar por
sinceridade e não por violência.
Se ser sincero é nascer de
apenas uma raíz, nós temos uma árvore de caule lenhoso que é Cristo, na qual
estamos enxertados e da qual recebemos da mesma seiva e através de quem
frutificamos para a vida eterna. De sorte que não há em nós duplicidade de
natureza, pois não andamos mais segundo a lei do pecado que opera na carne, mas
segundo a lei de Deus, que opera me nosso espírito pelo seu Espírito. Amém.
O justo que anda na sua
sinceridade transmite sua bem-aventurança para os seus filho:
O justo anda na sua sinceridade; bem-aventurados serão os seus filhos depois dele. [Pv 20.7]
Ou seja, a sinceridade do justo
torna a sua descendência durável, permanente.
Sobre integridade também escreveu Wilma Rejane em “Integridade segundo a Bíblia”.
Deus É Fiel!
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