Sobre o Homem Inútil
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Sobre o Homem Inútil
As coisas deixam de nos ser úteis quando passam a nos atrapalhar. Dessa forma, passam a estar sujeitas ao descarte, i.e., a serem consideradas como lixos a serem pilhados.
Diferente das coisas, as pessoas, dentro da ótica humana [que deve ser a ótica filantrópica], sempre deverão ser tratadas como úteis, por mais que, por um momento, nos atrapalhem, pessoas sempre deverão ser úteis. É que o homem é padrão de medida para outro homem, pois, segundo a sabedoria, como o ferro se afia pelo ferro, o homem se afia pelo seu igual:
“Como o ferro com ferro se aguça, assim o homem afia o rosto do seu amigo.” [Pv 27.17]
Visto isto, até
aqueles que nos desagradam, ou, aparentemente, nos atrapalham, são úteis para
nos tornar melhores em algum aspecto. Assim, temos a definição, por regra, de
que todos são úteis; nenhum homem é descartável.
Mesmo aquelas pessoas
que julgamos, de pronto, irrecuperáveis são úteis, pois são seres
humanos e representam o padrão de medida de outro ser humano.
Essa utilidade ou inutilidade pode ser medida sob pelo menos dois aspectos: sob o aspecto social ou sob aspecto espiritual. Sob o aspecto Espiritual, a [in]utilidade é medida por Deus, já, no aspecto social, pela vontade geral, da qual o Estado é o maior representante.
A que interessa a este BuM é a inutilidade sob o aspecto espiritual, mas, divagaremos brevemente sobre a inutilidade sob o aspecto social.
A Inutilidade do Homem sob o Aspecto Social
Pelo aspecto social, o homem inútil é o cidadão que não contribui para o cumprimento da vontade geral, sobretudo quando sua atitude passa a prejudicá-la. Quando sua atitude passa a pôr em risco a própria segurança da sociedade, o Estado, então, intervém para interromper a atitude lesiva através do que é conhecido como IUS PUNIENDI.
Alguns Estados se valem de mecanismos específicos para determinar o ponto de transição entre a utilidade e a inutilidade de uma pessoa para a própria sociedade sobre a qual a jurisdição do referido Estado incida.
O ius puniendi
é o direito de punir que é, pelo contrato social, reservado ao Estado, detentor
da vingança social. Este, em vista do bem geral, poderá fazer com que a punição
alcance o aspecto patrimonial ou o aspecto físico do punido, neste último caso,
a punição recairá sobre o seu corpo, através da restrição de sua liberdade ou
mesmo decidindo sobre seu direito de viver.
No caso de o Estado entender que o agressor deva pagar com sua vida, tal pessoa deverá ser considerada, após o devido
processo legal, do ponto de vista social, irrecuperável, o que pode se dá, também, quando, ainda que recuperável, a sua conservação em vida não satisfaz a anseio geral por justiça.
O Estado assim age
para colmatar a ruptura aberta na sociedade pelo mal praticado. Esta ruptura,
causada por um mal injusto, provoca no sentimento geral um agravo e, portanto,
uma expectativa de reparo.
De acordo ao tamanho
do dano, o reparo pode se dar em pecúnia [valores correntes]; privação da
liberdade, com objetivo de ressocializar o punido; ou, mesmo, caso a
ressocialização seja julgada improvável, com a supressão da vida pela pena de
morte. Nesse caso, o Estado entendeu que as demais ações seriam insuficientes
para satisfazer a vontade geral por justiça.
As informações supra
não são unânimes, variando de acordo a ideia de Direito que cada Estado tenha.
Poucos Estados Nacionais admitem, ainda, a pena de morte e a prisão perpétua,
tendo, hoje, os Estados Unidos como os maiores expositores deste modelo de
justiça, em que a pena de morte e a prisão perpétua são permitidas.
No Brasil, não se
admite prisão perpétua, e a pena de morte é restrita a uma única hipótese
[Constituição Federal, art. 5.º, XLVII, a].
A declaração de
inutilidade é o último recurso de que o Estado possa se utilizar, devendo
sempre buscar a ressocialização do indivíduo como primeiro recurso. A inutilidade
nunca pode ser defendida por critérios pessoais, de perseguições políticas ou
por divergências individuais que não satisfaçam a vontade geral, a vontade da
lei entendida como viabilizadora da justiça, do direito.
A Inutilidade do Homem sob o Aspecto Espiritual
Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal. [2Co 5.10]
Dentro, agora, da dispensação divina, existem
pelo menos três tipos de homem: o JUSTO, o ÍMPIO e o INÚTIL.
Os dois primeiros, o JUSTO e o ÍMPÍO, são úteis
diante de Deus.
O Justo
O primeiro [o JUSTO] é útil porque está ou busca
estar no centro da vontade aprazível de Deus, como Jesus disse:
[...] sereis meus amigos, se fizerdes o que vos mando. [Jo 15.14];
O justo tem por missão agradar ao seu Senhor,
encontrando prazer em todos os seus mandamentos; a recreação do justo é a
Palavra de Deus:
Folgo com a tua palavra, como aquele que acha um grande despojo. [Sl 119.162]
O próprio Jesus confirma:
Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele. [Jo 14.21]
O Ímpio
O segundo [o ÍMPIO] é útil porque, mesmo sem
saber, está dentro da vontade de Deus, a vontade não-aprazível. Como está escrito:
O Senhor fez todas as coisas para atender aos seus próprios desígnios, até o ímpio para o dia do mal. [Pv 16.14]
Esta é a vontade
não-aprazível, pois Deus não tem prazer na morte do ímpio, antes que se
converta da sua maldade; como está escrito:
Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis, ó casa de Israel? [Ez 33.11].
Assim entendemos que mesmo
ao ímpio está reservado uma utilidade. A vontade de Deus é que o ímpio deixe a
impiedade e venha à Justiça, mas, se assim não o fizer até ao tempo
determinado, não poderá fugir de sua sina.
Que utilidade, então, seria essa reservada ao
ímpio? O escândalo, ou melhor, o escárnio de que se servirá os filhos de
Deus; a zombaria.
Ri, ri, ri, ri, ri. Cá, cá, cá, cá, cá. Este
riso é destinado àqueles que acham que não. Mas as Escrituras não mentem:
Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.
Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna. [Gl 6.7-8]
A lei da semeadura é firme: qualquer só colhe
aquilo que por ele fora plantado. O ímpio planta zombaria e escárnio em todo
tempo. Que pensa então que irá colher de Deus e de seus santos? Como está
escrito:
Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles. [Sl 2.4]
Ou como diz:
E sairão, e verão os cadáveres dos homens que prevaricaram contra mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e serão um horror a toda a carne. [Is 66.24]
Está-se falando, aqui, do inferno, onde
seu bicho não morre e o fogo nunca se apaga. [Lc 9.44] Este mesmo inferno fora,
antes, preparado para satanás e seus demônios [Mt 25.41b] e é de lá que o ímpio servirá de horror a toda carne.
O Inútil
O servo inútil é o
alvo deste artigo. Ele se contrapõe ao servo bom e fiel. O servo bom e fiel é bom
porque sua natureza é a de Cristo e é fiel pois está firme em seu propósito,
agradar a Deus.
Como visto, inútil é
aquilo de que não se pode mais aproveitar, assimilando-se ao irrecuperável. No
aspecto que nos interessa, o espiritual, a inutilidade é marca de cujo carimbo
só pertence a Deus.
As características do
homem inútil se assemelham muito às do homem preguiçoso de que
nós já falamos e de cujo artigo sugiro leitura.
O inútil é pior do que o ímpio que ainda não morreu na sua impiedade. O inútil pode ter ares de piedade, mas engana a si mesmo; é aquele que diz servir ao seu senhor, mas desconhece a vontade deste. O inútil se faz pior do que o ímpio pois este procura honra a seu senhor, o mundo, sendo sincero naquilo a que se propõe. Como está escrito:
Quem é injusto, seja injusto ainda; e quem é sujo, seja sujo ainda [...] [Ap 22.11a]
E também:
[...] porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz. [Lc 16.8b]
O inútil tem vergonha
de ser ímpio, mas, propondo-se ser justo, não o faz com dignidade, não
aproveita, assim, nem uma coisa nem outra. Não usufrui perfeitamente do mundo
nem perfeitamente de Deus. o inútil desconhece o senhor a quem diz servir, pois o medo lhe estorva a compreensão perfeita de seu senhor.
Mas quem é o servo inútil?
Como dito, o inútil assemelha-se muito ao preguiçoso. A diferença é que o preguiçoso não age, porque é leviano e sua leviandade o deixa inerte; o preguiçoso é reativo, não tem iniciativa.
O inútil, por sua vez,
não age, porque tem medo. O conhecimento que o inútil tem do seu senhor é
imperfeito. Por ter medo infundado de seu senhor, o inútil fica paralisado,
pois quem tem medo não é perfeito em amor. Como está escrito
No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor. [1Jo 4.18]
O inútil se assemelha
ao preguiço no que se refere ao agir sob demanda, pois, apesar do
motivo da paralização e da inércia ser diferente para cada um, os dois agem de
acordo à ordem superior.
Para se entender
melhor o que é ser considerado um servo inútil perante Deus, devemos ir à
passagem retratada no Evangelho, segundo Lucas, capítulo 17.
Da passagem
Nesta passagem Jesus ensina aos seus discípulos o dever de sempre perdoar àquele que se apresentar arrependido perante o ofendido, ainda que isso se dê sete vezes num dia. Julgando isso difícil, os discípulos pediram a Jesus o acresço da fé.
Para que os discípulos entendessem, Jesus lhes perguntou: qual de vós, sendo um senhor de terras e tendo servos, na hora da refeição, tendo um servo acabado de retornar do serviço do campo, parabenizaria tal servo pelo serviço concluído e ainda o convidaria para se juntar a mesa e comer juntamente com seu senhor.
Jesus diz que nenhum
deles convidaria ao servo, antes diriam ao servo para primeiro pôr a mesa e,
depois de seu senhor ter comido, o servo poderia comer.
Jesus conclui
dizendo:
Porventura dá graças ao tal servo, porque fez o que lhe foi mandado? Creio que não. Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer.
Jesus se utilizou
dessa ilustração para explicar sobre o valor do perdão. Pois, assim como Cristo perdoou os nossos pecados, sendo muitos, nós também devemos perdoar a quem nos
ofende e, se fizermos apenas o que nos for mandado, ou seja, se perdoarmos
apenas sete vezes por dia, ou fizermos a conta das quatrocentos e noventa
vezes [70x7] que devemos perdoar, deveremos bater no peito e dizer:
SOMOS SERVOS INÚTEIS.
Assim como o servo, que deveria saber que após chegar do campo deveria preparar a mesa do seu senhor e, assim, se antecipar a isso, pois sua função consiste em agradar ao seu senhor, não esperando louvor pelo cumprimento de apenas aquilo que lhe fora ordenado, os discípulos, de igual modo, deveriam se esforçar em agradar a seu senhor, não entender que será louvar por simplesmente cumprir tudo que lhe fora ordenado.
O Medo do Inútil
Como dito, o inútil
tem receio de seu senhor, tem medo de tomar decisões, não entende o princípio, mas apenas a letra dos preceitos.
Para relatar o medo
do inútil, podemos nos utilizar da parábola dos talentos.
Pela parábola, temos
que determinado senhor distribuiu talentos a seus servos, a um deu cinco, a
outro dois e a outro um. Os servos que receberam cinco e dois talentos,
respectivamente, granjearam com os talentos e dobrou-os em valor. O que recebeu
um, por sua vez, enterrou o talento.
Quando do retorno do
senhor para tomada de contas, verificaram-se os feitos e se soube que o que
recebera um talento tinha-o enterrado por medo de seu senhor. Como se vê:
Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; E, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu.
Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei? Devias então ter dado o meu dinheiro aos banqueiros e, quando eu viesse, receberia o meu com os juros. [Mt 25.24-27]
O Fim do Inútil
Pela narrativa de
Mateus, o servo que recebeu apenas um talento foi dado como inútil:
Lançai, pois, O SERVO INÚTIL nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes. [Mt 25.30]
Portanto, assim como o
ímpio, o fim do inútil são o tormento eterno, as trevas exteriores, onde
há pranto e ranger de dentes.
Conclusão
O homem sempre, enquanto viver, deve buscar ser
antropófilo, altruísta, encontrando seu bem em bem fazer.
O que procura se enganar deve saber que engana
apenas a si mesmo, pois todas as coisas estão nuas e patentes diante de Deus.
Aquele que procura servi ao Senhor Jesus deve conhecê-lo, para que não pereça em sua ignorância.
O ímpio sabe, como se viu, a quem serve,
procurando ser sincero em seus caminhos, isto é, a corresponder àquilo a que se
propõe. O inútil, por sua vez, se engana, mas, infelizmente, não terá sorte
diversa da do ímpio, pois ambos desagradam a seu senhor.
Deus É Fiel!
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