O Que é a Vontade de Deus?
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
O Que é a Vontade de Deus?
Segundo a boa Palavra de Deus, tudo que Deus fez era muito bom [Gn 1.31]. Não era só bom, era muito bom.
Deus criara
o mundo segundo a sua soberana vontade. A vontade de Deus, por sua vez, é boa,
perfeita e agradável. De igual modo, o produto de sua vontade é
algo bom [ou muito bom], perfeito e agradável. Ou seja, a bondade, a
perfeição e a agradabilidade da vontade de Deus transmitem-se a toda sua Criação.
A transmissão das características da vontade de Deus à Criação garantia a esta a harmonia da convivência dos seres. Nada havia de ruim, imperfeito ou desagradável que ameaçasse essa harmonia. Tudo era formoso em seu tempo, nada se lhe devendo acrescentar, pois tudo fora feito para durar.
Da Constituição da Criação [Seres Autônomos e Não-Autônomos]
Essa Criação,
de que se fala, é composta de seres inanimados [desprovido de alma
(minerais, vegetais etc.)] e de seres animados [providos de alma
(animais, o homem, os anjos)]. De entre os seres animados,
distinguem-se, pelo menos, dois tipos: os seres animados autônomos
e os seres animados não-autônomos.
Entre os
seres animados não-autônomos temos alguns seres celestes [animais
celestes], que habitam com Deus, e alguns seres terrestres [animais terrestres
(as alimárias)], que habitam com o homem. Entre os autônomos temos
outros seres celestes [mais conhecidos como Anjos ou Mensageiros], que também
habitam com Deus e, na terra, temos, como ser autônomo, o Homem.
O ser não-autônomo
é aquele que não pode fugir ao seu propósito, não têm faculdade para decidir
fazer ou não fazer, ou, ao menos, se o tem, tal faculdade é grandemente
reduzida. Ou seja, não tem autonomia, ou a tem de forma reduzida.
Ex.: Um
cavalo, ser não-autônomo terrestre, está destinado a servir de meio de
transporte ao homem; algumas vezes pode refugar, fugir, empacar, desobedecer,
mas, na maioria das vezes, estará preso ao seu destino.
Assim
também são os seres celestes não-autônomos, só fazem o que está previsto
para fazerem. Como Está escrito:
E cada qual andava para adiante de si; para onde o espírito havia de ir,
iam; não se viravam quando andavam. [Ez 1:12]
Percebe-se,
com isso, que alguns dos animais celestiais não têm autonomia de vontade,
apenas cumprem a vontade do espírito, posta dentro deles por Deus. São não-autônomos,
portanto desprovido de autonomia.
Por sua
vez, o ser autônomo é aquele que pode escolher cumprir [seguir] ou não cumprir
[não seguir] a norma a que está sujeito. O ser autônomo tem, assim,
capacidade para estabelecer para si sua própria lei. Ou seja, eles detêm
autonomia.
Toda Criação,
antes, ainda, de Deus criar o homem, vivia em equilíbrio, pois entendia e
respeitava a vontade divina para si. Os seres autônomos estavam em perfeita
harmonia com o Seu Criador, ATÉ AO MOMENTO EM QUE SE ACHOU INIQUIDADE NELES [Ez
28.15]. Os seres autônomos passam, assim, a desviar-se de seu propósito: a
errarem o alvo.
Soberania e Autonomia
A Soberania
[poder supremo] é atributo de alguém que esteja em última instância, cuja
satisfação atenda apenas à vontade do ente soberano. Só se fala em soberania
quando tudo se lhe sujeita. Assim Deus, em sua soberania, não deve satisfação
de seus atos a outrem que não a si mesmo. Entendendo-se por satisfação o dever
de prestação de contas por seus atos.
A Autonomia,
por sua vez, é a capacidade para decidir por si mesmo os seus atos, que serão
supervisionados, em última instância, por um ente soberano. É a capacidade para
estabelecer para si mesmo suas leis, ou de escolher quais leis seguir.
Conquanto
os seres autônomos possam escolher seguir ou não uma lei já posta, sua escolha,
por outro lado, não é provida do atributo da soberania, pois, a vontade
autônoma pressupõe a aceitação das consequências decorrentes de suas escolhas, consequências
postas pelo Soberano, que é quem detém o BENEPLÁCITO. Como está escrito:
Bendizei ao Senhor, todos os seus exércitos, vós ministros seus, que
executais o seu beneplácito. [Sl 103.21]
Por sua
vez, a vontade soberana não reconhece outra vontade que lhe seja
superior.
Assim, pela
sua soberania, Deus estabeleceu dois destinos possíveis ao homem [ser
autônomo]: o caminho da bênção, para os filhos da obediência; e o caminho da
maldição, para os filhos da desobediência [também conhecidos como não-filhos].
Percebe-se
assim, que a autonomia, aqui, para o homem, lhe confere apenas dois resultados
possíveis, já estabelecidos pela soberania divina. Não há, então, liberdade
irrestrita ao ser autônomo, mas sua liberdade é pré-orientada à feitura do que
é certo.
A Vontade de Deus
Chegado até aqui, passemos a considerar, agora, o que seja a vontade de Deus.
Alguns
costumam separar a vontade de Deus em, pelo menos, dois tipos: a vontade
soberana e a vontade permissiva. Segundo essa divisão, a vontade soberana é
atendida, quando determinada atitude está no centro da vontade de Deus, já a
vontade permissiva incide sobre uma atitude que não se encontra no centro da
vontade de Deus.
Pessoalmente,
não estou de acordo com esta divisão, por me parecer que a vontade de
Deus, em qualquer caso, é sempre soberana, haja vista que vontade revela
querência. Não é vontade/querer de Deus que o homem peque, sendo assim, não
posso dizer que tal atitude está dentro da vontade de Deus. O querer de Deus é
soberano justamente em razão da origem daquele.
Se o que se
faz está dentro do querer de Deus, então está dentro da sua vontade
[sempre soberana]. Se, por outro lado, o que se faz está fora do querer de
Deus, não está na sua vontade. Se Deus não o quis [volição], não se pode
falar em sua vontade.
Mas a pergunta que se faz é: Deus não o quis, mas o permitiu? Naturalmente, todos respondem ‘sim’, o que leva as pessoas entenderem errado a questão da permissão. Esta permissão é a mesma presente quando do pecado de Adão.
Quando
Adão pecou, porventura a sua atitude fora precedida da permissão divina? Adão
chegou diante de Deus e pediu a permissão deste? Absolutamente, não. Então a
permissão de que se fala aqui deve ser entendida como uma não-imposição
da vontade divina. Deus é soberano, mas não impõe sua vontade aos seres
autônomos. Impõe, sim, as consequências.
A Não-Vontade de Deus
Pode haver
permissividade, no sentido de tolerância, para aquilo que Deus não quer, mas
nunca, nesse caso, decorrerá de sua vontade, mas, sim, de sua não-vontade.
Assim, ou Deus quer algo, ou Deus não o quer, mas, neste último caso, o tolera.
A
tolerância de Deus é decorrente da sua longanimidade, ou seja, da sua
capacidade de sofrer o mal. Por isso mesmo, Deus é conhecido como Deus Sofredor
[Sl 86.15 c/c 145.8]. O sofrimento é marca característica do Amor [1Co 13.4] e
de todos os servos dO SENHOR [2Tm 2.24].
A permissão
ou tolerância de Deus não é, assim, outra coisa senão a manifestação da sua
longanimidade, i.e., da sua aptidão para sofrer o mal pelo tempo
determinado.
Assim, o que, até aqui, se entende, então, por
vontade permissiva eu entendo como uma atitude permitida decorrente da não-vontade
de Deus, pois a vontade de Deus é e sempre será soberana, ainda
que nem sempre a vontade soberana seja implementada.
O atributo da soberania, então, não se
traduziria, aqui, na imposição peremptória da vontade divina, mas no fato de
que a vontade de Deus, que é única e soberana, é revelada, conhecida e
deve ser perseguida, sendo a única forma de se chegar ao Reino dos
Céus.
A vontade de Deus é soberana pela sua
qualidade: é advinda de alguém supremo, que não tem sobre si alguém que lhe seja
superior. Não é soberana pelo fato de simplesmente prevalecer em todas as
situações.
Então, se não se trata de vontade de Deus,
qual sentimento, que não a querência [vontade] divina, é dispensado sobre a
atitude errônea? A resposta é, o sentimento da ira divina. Quanto a isso, maiores exposições vimos no
artigo de minha autoria “Deus Ama ao Pecador?”. O ímpio açambarca para si a ira
divina.
Da Manifestação da Vontade Divina
Em Relação a Atitude Autônoma: A Vontade e A Não-Vontade
A vontade de Deus será sempre a sua vontade soberana, ou seja, Deus sempre conservará consigo o equilíbrio de sua criação. Em que pese isso, tal vontade pode se nos apresentar em, pelo menos, duas ou três formas. Eu bem que queria dizer isso de uma maneira mais fácil, mas, hoje, não a encontrei.
Vamos lá! De primeira subsiste apenas Deus e a sua vontade, posteriormente, Existe Deus e existem os seres autônomos, que seguem a vontade de Deus por entendimento e submissão. No primeiro momento, a vontade de Deus é aprazivelmente plena, pois há a perfeita harmonia.
No segundo momento, quando se acha iniquidade
nos seres autônomos, ou seja, quando os seres autônomos passam a querer
estabelecer leis para si desprovidas de atenção à Lei Soberana, surge o
espectro da não-vontade.
Até aqui, falamos da vontade e da não vontade
em relação à atitude autônoma. Porém vimos que a atitude autônoma que viola a
soberania de Deus sofrerá a ação divina reparadora do equilíbrio da criação.
Isso porque, a atitude tolerada/permitida
contraria a vontade de Deus e nunca por ela será contemplada, i.e.,
nunca será achada dentro do campo volitivo divino, ao contrário, levará sempre
ao ímpio para o lugar do não aprazimento, da não-vontade, pois Deus não tem
vontade naquilo que não Lhe apraz.
Em Relação à Atitude Divina [A Vontade Aprazível e a Não-Aprazível]
Há pouco eu falei que Deus não tem vontade
naquilo que não lhe apraz e, agora, eu falo em vontade não-aprazível. Acontece
que falávamos da vontade que recaíra sobre a atitude do ser autônomo [como os
anjos e o homem], agora falamos da vontade manifesta na própria ação
divina.
A vontade, soberana, de Deus, por sua vez,
pode se dar de forma aprazível ou de forma não-aprazível. Em que pese
não parecer, a vontade não-aprazível, por sua vez, está dentro da vontade [soberana]
de Deus.
No primeiro momento, a vontade, soberana, de Deus é uma, ou seja, de uma só natureza. Está plena.
Com a atitude não querida empreendida pelo ser autônomo, há com ela, uma ruptura na natureza da vontade, soberana, divina. Essa vontade, antes, una, passa, assim, a uma vontade dividida.
Entendamos. A vontade, soberana, de Deus é boa,
perfeita e agradável [Rm 12.2]. Se, por outro lado, houver uma
atitude que a contrarie, ou seja, uma atitude injusta, ímpia, tal atitude provocará
um desequilíbrio na bondade, perfeição e agradabilidade em tudo que decorra da
vontade aprazível. Deus, então, deverá intervir, para o restabelecimento desses
atributos, mesmo que, para isso, o ímpio deva pagar, pois se recusara a se
converter.
Deus não quereria ter que restabelecer a
bondade, perfeição e agradabilidade de sua obra, mas deverá fazê-lo diante de
qualquer atitude injusta que lhes afete. Visto isto, de onde surge, então, o
não-aprazimento? Do fato de ter que, com o restabelecimento, destruir a obra de
sua mão, o homem, que se tornara ímpio.
O ímpio, assim, outrora filho, se coloca na
condição de não filho. O não-aprazimento, assim, não é pelo agir em si, pois o
agir é necessário para o restabelecimento da ordem, mas porque tem de destruir
a obra de suas mãos.
Explicando melhor. O pecado levou Deus a
aplicar um plano de salvação, que contempla desde o sacrifício de seu Filho até
o estabelecimento de um novo mundo. Deus não quereria estabelecer este plano,
mas, devido ao pecado, agora, Ele qué-lo. Como está escrito:
Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar [..] [Is 53.10a]
Assim o plano de salvação está dentro da
vontade aprazível de Deus. É o prazer de Deus restaurar o mundo e o homem, não é
prazer, contudo, que o ímpio morra no seu pecado [Ez 33.11].
Assim, se entende que o ímpio está dentro da
vontade não-aprazível por reflexo, pois para que se prevaleça a perfeição, a
bondade e a agradabilidade da vontade de Deus, o mal deverá ser destruído,
mesmo que Deus não tenha prazer nessa destruição. Ou seja, com o surgimento do
mal, surge a vontade de Deus de destruí-lo. Com o mal, será destruído, também,
o ímpio.
Haverá assim, um conflito, quando do momento
de destruição do mal: Deus, devendo destruir o mal causado, para que seja
restabelecida a sua vontade aprazível, deverá destruir com ele o ímpio, obra de
suas mãos.
O ímpio se coloca, assim, na posição de não-filho [Dt
32.5], de modo que o ímpio nunca ouvirá de Deus a seguinte declaração:
Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. [Mateus 3.17]
Dito isto, a vontade aprazível de Deus
contempla não só o seu cumprimento, mas também o seu reestabelecimento.
Chama-se, então de vontade não-aprazível não porque Deus não a quer fazer, mas
porque Deus não a quereria fazer, mas deve fazê-la.
Traduzindo: Deus não quer que sua vontade seja
descumprida, mas, em sendo descumprida, tal descumprimento provoca desordem,
pelo que Deus intervirá para o restabelecimento da ordem.
Deus não quereria que o homem errasse pois não
quereria intervir para restabelecer a ordem, mas quererá, pois deverá, depois
do erro, intervir para restabelecê-la. Assim, a vontade não-aprazível opera
antes da intervenção, pois, quando da intervenção, o que se opera é a vontade
aprazível de Deus.
Porém, como vimo, Deus não tem prazer na morte
do ímpio, antes que se converta de seu mal e seja salvo [Ez 33.11]. Deus,
assim, por sua infinita bondade, reservou um lugar de salvação para o ímpio:
Jesus Cristo, o Salvador. Se, por outro lado, o ímpio rejeita a Cristo, tem
sobre si a ira de Deus.
Conclusão
Quero ter deixado claro o suficiente o que me
propus a falar, ainda que, de primeira, para difícil tal elucidação, não
encontrei, ainda, uma forma mais fácil de dizê-lo. Espero, contudo, que o
entendimento do que só existe uma vontade divina - a boa, perfeita e agradável
- tenha fica claro para nós.
Outro ponto importante para se saber é: Nem
sempre o que Deus faz está em sua vontade primeira, mas pode fazê-lo por
necessidade, sua vontade segunda, cujo objetivo é o restabelecimento do
equilíbrio afetado pela atitude desobediente. As duas, apesar de tudo, são
soberanas, não sendo opostas entre si.
Uma bússola apontando sempre para próximo do
norte geográfico não muda sua orientação, ainda que tolere alguém indo para o
sul geográfico; a vontade de Deus também aponta sempre para uma única direção:
a obediência. Deus não muda sua orientação, ainda que tolere os filhos da
desobediência.
Bendizei ao Senhor, todos os seus
Deus É Fiel!
exércitos, vós ministros seus, que executais o seu beneplácito. [Sl 103.21]
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
Comentários
Postar um comentário